sábado, 29 de março de 2008

MEMORIAL: CARTA DE 2004 AO MOVIMENTO ESTADO DE PAZ COMO GRANDE PARCEIRO.

Estado de Paz. Reflito hoje, Páscoa de 2004, sobre o nome Estado de Paz. Fico a pensar na poesia contida aí. Quem ou quais poetas escolheram tão belo nome, tão bela utopia, para consagrar o movimento que cresce e que acolhe cada vez mais e
mais interessado para nossos mesmos motivos. Penso na responsabilidade de cada
um de nós, simples membros, adeptos de um sonho igualitário, porém não
demagógico.

De fato, o que podemos fazer? O Banco de Dados representa muito. Acompanharemos
de perto o passo a passo dos desvalidos, despossuídos e ao mesmo tempo teremos a
responsabilidade de reagir e contrapor aquilo que nos é imposto por uma
sociedade cada vez mais capitalista e perversa, onde se apresenta como
justificativa para tanta violência a alta taxa de desemprego, o alto índice de
demissões e acusa-se ex-trabalhadores acima de 40 anos de cair no crime para
sustentar a família. Será esta a sustentação sociológica para os fatos?

A quantidade de desvalidos e desassistidos aumenta.

Salvador apresenta índices alarmantes e já é impossível distinguir quem de fato
precisa de quem explora. Lembro que há mais de 20 anos atrás, quando repórter da
Tribuna da Bahia escrevi página inteira sobre o tema. “Mendicância: como
distinguir quem precisa de quem explora”. Tirando os entrevistados que são de
saudosa memória (Irmã Dulce, Dalva Mattos, entre outros anônimos), o texto
poderia ser repetido hoje como se nada houvesse mudado, a não ser os números
referentes à população. Militante de partido político, cheia de vontade de mudar
o mundo, grávida de enternecimento e luta, parti para o tema, estudando
profundamente e daí uma série de matérias se seguiram.

Saudosismo? Não! Revolta mesmo. Nada mudou. Hoje, como presidente da Fundação
Maria Lúcia Jaqueira de Mattos , confundida muitas vezes como entidade
governamental, vejo as pessoas aflitas entrarem em nossos consultórios e
pedirem ajuda pelo amor de Deus, pelo amor deste mesmo Jesus que é crucificado
diariamente, impiedosamente. Pergunto-me então o que se festeja nesta
Páscoa.Pergunto-me o que nós do Estado de Paz, todos os membros, todas as
organizações, todas as instituições, podemos fazer.

De fato temos um muro que nos separa e não é invisível. Basta andar pelos
calçadões da cidade, do centro, dos becos e avenidas.Bastam visitas as favelas,
a periferia. Basta pensar no medo que apresentamos diante dos carentes. (?).

Palavrinha que particularmente considero preconceituosa, indecente, odiosa. Nós
todos somos carentes, nós todos somos necessitados de uma palavra de afeto, de
carinho, de um gesto de afago, de um gesto de ternura. Carência não decorre de
uma falta de comida, de uma peça de roupa, de um corpo despido e morto de frio.
Somos humanos e, por conseqüência, carentes.

Mas, hoje é Páscoa. Temos que preservar a esperança temos que acreditar que
juntos teremos um mundo melhor ou prepararemos um mundo melhor. É nesta
ideologia que acredito: que somente a vontade de mudar e enfrentar as questões
sociais, sabendo que, cada um de nós, é apenas um dos elos mais frágeis desta
corrente.Apenas uma reflexão.

Abraço a cada companheiro.

Vera Mattos
Presidente da Fundação Jaqueira

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