sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

CRIANÇA TEM QUE SOFRER?


CRIANÇA TEM QUE SOFRER ?
Esta é a pergunta que faço todos os dias. Pergunto a mim mesma, pergunto aos amigos, companheiros de luta, aos militantes de inúmeras causas. Criança tem que sofrer ? Claro que ninguém responde que sim, que criança deve sofrer por ser apenas o inicio da viagem do ser humano , por si só solitária , em sua eterna busca. Mas existem sofrimentos que me incomodam bastante pois que me sinto com a culpa do mundo, embora compreenda plenamente que o mundo é grande e afinal eu sou apenas uma partícula deste processo que envolve vida e morte. Tenho portanto todas as limitações e me destituo de arrogância para envolver a relação culpa e poder. De fato somos todos culpados. Ou seremos adultos inocentes e portanto pacificados frente as responsabilidades pessoais e coletivas. Cada qual que se encaixe e busque seu dilema. O meu mais imediato impulso é desejar entender porque os pacientes em déficit mental são tão discriminados.
Vejamos este caso: uma criança que apresenta TDAH – Transtorno Déficit Atenção Humana com hiperatividade e/ou desatenção exige extremamente da família. Geralmente, um dos pais abdica da vida profissional para cuidar do filho. E começa a peregrinação para chegar-se a um diagnostico e a um tratamento. Em outras ocasiões a família se desfaz , a família não suporta o peso, fica com a criança o mais corajoso, o que deixa prevalecer o amor. Mas em sociedade onde o capitalismo selvagem impera, somente amor não basta, é preciso dinheiro, muito dinheiro para dar conta de tantas exigências.
Como o tratamento deve ser plural, interdisciplinar, fica impossível para as famílias de baixa renda, e de classe média, se é que isso ainda existe, comprometer parte do tratamento. Na nossa Constituição esta previsto que Saúde é dever do Estado propiciar, garantir, assegurar. Também esta dito que Educação e Segurança são deveres do Estado. Cresci acreditando na utopia de ver uma sociedade igualitária. Cada vez estou vendo o outro extremo. E não participo disto à distancia não, vejo no batente diário. Falávamos de crianças e sofrimento. Volto a isto. Uma das crianças assistidas pela Fundação Maria Lúcia Jaqueira de Mattos não encontrou qualquer possibilidade de atendimento odontológico por ser portador de déficit mental. Não encontrou qualquer unidade hospitalar que o aceitasse. Em situação de extremo abandono odontológico pode-se inicialmente culpar a família ; em seguida, poderemos dizer que os profissionais que o viram poderiam ter feito um encaminhamento para uma unidade hospitalar capacitada antes que as conseqüências fossem maiores; verifique-se as condições do município que ele vive que nada oferece e faz parte deste paraíso chamado Bahia.
Quando chegou a Salvador, já com os dentes em estágio avançado de caries, com dores violentas causadas pela exposição das partes mais sensíveis, já não podia beber água nem comer. O resultado foi a desidratação, a desnutrição e a dor. Peregrinamos por aqui também. Ele agora esta internado, mas não para tratar os dentes e sim de uma infecção generalizada. Quando termino de escrever este cotidiano tenho dúvidas quanto as possibilidades de sobrevivência. Mas estou torcendo por um final feliz. Afinal, aqui no Brasil parece que estamos destinados a sermos torcedores de uma Pátria amada, idolatrada mas desrespeitada diariamente pelas ações de todos, diretamente ou indiretamente envolvidos nas questões que envolvem a sociedade. Chegamos em um momento em que as organizações não governamentais tem mais confiabilidade que qualquer organização publica. Que a boa vontade do cidadão e mais forte do que as exigências legais. O voluntariado deve prevalecer, somar para encontrar soluções, saídas, caminhos, e sobretudo não se deixar vencer pelo pessimismo de muito e do otimismo e riso cínico dos guardiães do capitalismo._____________________________________Vera Mattos - Jornalista/Psicanalista. Presidente da Fundação Maria Lúcia Jaqueira de Mattos. Artigo publicado na Tribuna da Bahia. e-mail: fundacaojaqueira@yahoo.com.br

Um comentário:

  1. e aquela que fala
    è aquela que se expõe
    è aquela que sabe que correrá riscos
    é aquela que sabe que sua vida particular sofrerá terríveis mudanças
    é aquela que sabe que sua família também estará em risco

    e aquela que fala,
    não pode se conter tamanha violência que presencia
    e aquela que fala
    se sente sem alternativas
    e opta pela sua consciência, pela sua cidadania,
    e opta pelo sentimento de solidariedade

    Corajosa, destemida fala, grita pelos desamparados e oprimidos
    Combate ferozmente os que atingem as crianças, as mulheres, os idosos.
    Sinônimo de heroína Vera Mattos

    Pois heroínas existem em nossa atualidade!
    Não são exclusivas da antiguidade!
    São mulheres que se entregam, se imolam por amor, por compaixão, por ideais.
    São mulheres que se tornam vítimas em nossa defesa

    Vera Mattos é real, é atual, é mulher, é mãe
    Vera Mattos fala por nós.
    Vera Mattos fala por uma sociedade digna, com princípios fortes.
    Vera Mattos clama por união e força contra criminosos, agressores, discriminadores.
    Vera Mattos precisa que nossa voz se junte a dela, para que um só brado se faça ecoar
    Vera Mattos sofre ameaças por falar por nós, por nossas crianças, por nossos idosos, por tantas mulheres.
    Ana Maria Bruni

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