sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

DOR DE MULHER É UMA SÓ. É UMA DOR COMPARTILHADA.


DOR DE MULHER É UMA SÓ. É UMA DOR COMPARTILHADA.

A situação da mulher mudou de fato? Estaremos sempre destinadas a desenvolvermos tarefas árduas , termos dupla jornada, e ainda devemos fazer uma cara de felicidade, de que está tudo muito bem para garantirmos a nossa condição feminina?Todos os dias na Fundação Maria Lúcia Jaqueira de Mattos recebo mulheres de todos os níveis e condições sociais. O sofrimento é uma constante. Algumas por terem sido vitimas de abuso sexual de estranhos, outras por terem sido vitimas de violência sexual do pai, do irmão, do padrasto, do parente.São mulheres de todas as idades. São crianças, adolescentes, mulheres adultas das mais diversas faixas etárias. Algumas sofrem por ter sido violentadas sem a menor possibilidade de denúncia mesmo diante das famílias porque temem ser postas para fora de casa; outras dão queixa na delegacia das mulheres e retiram por medo da vingança do agressor. Todas acabam sofrendo de diversos distúrbios e transtornos mentais. Passam a ter nojo delas mesmo, têm medo de tentar de novo, desconfiam dos homens, não acreditam em mais nada. Buscam na terapia uma chance de reviver.Em outros momentos chegam mulheres carregando filhos doentes nos braços e raros são os homens que as acompanham. Elas carregam os filhos com a esperança de que eles se recuperem e os profissionais da Fundação sabem que nem todas as patologias têm cura nem a longo prazo. Mas elas insistem no tratamento. Tomam ônibus, chegam ofegantes para o tratamento. Quantas precisariam de transporte especial, de cadeiras de roda, de alimentação, pois não podem trabalhar fora de casa porque não teriam quem cuidasse de seus filhos.E onde estão estes homens que violentam e abusam sexualmente, ameaçam suas vitimas, transgridem todas as normas? E onde estão estes pais que não sabem que um filho doente é fruto de duas pessoas? Onde está este homem responsável do século XXI capaz de ser companheiro e de respeitar cada mulher?É esta a minha reflexão: enquanto houver uma mulher violentada, de qualquer cor e raça, estaremos todas sendo violentadas. Onde houver uma mulher sofrendo em razão da paternidade irresponsável, estaremos todas sofrendo. Porque dor de mulher é uma só. É uma dor de parto, é uma dor de um útero universal.A Fundação Maria Lúcia Jaqueira de Mattos confia nas ações desenvolvidas pelo Ministério Público, mas, ao mesmo tempo, roga pela agilidade dos processos.E, principalmente, que haja uma reeducação masculina, que haja uma nova proposta comportamental que revolucione a sociedade no sentido de que não basta manter uma elite feminina devidamente adequada a este tempo. Nós mulheres somente teremos o que comemorar quando os avanços que alcançarmos forem compartilhados com todas as outras.

Vera Mattos(Jornalista / Psicanalista)

Um comentário:

  1. Dor
    Palavrinha miúda e atroz.
    Quando vemos um animal com dor, nos penalizamos, o socorremos, cuidamos dele.
    Quando vemos nossas irmãs em dor, o que fazemos?
    São mulheres, me incluo nelas, que padecem em dor constante, aguda, atroz. Algumas com seqüelas de agressões físicas, outras com dores psicológicas vorazes. Mulheres consumidas pelo dor do medo, pela omissão,pela lentidão da justiça, pelo descaso e atendimento prestado pelas delegacias, pelo silêncio covarde da sociedade, pelas humilhações, difamações e ironias recebidas. Mulheres devoradas pelo ostracismo, pela indiferença de todos em relação aos golpes que destroçaram e destroem suas vidas.
    Mulheres entorpecidas se tornam, algumas depressivas resultado da constatação de impunidade e descaso com a qual foram e são tratadas
    Mulheres, cidadãs de um país que diz viver em democracia, mas que não respeita sua própria Constituição e os acordos celebrados com outros paises em relação ao fim da violência contra as mulheres.

    No que o Brasil se diferencia das situações no Irã? Lá são as adúlteras apedrejadas (os homens que cometeram adultérios com elas ninguém fala), aqui somos apedrejadas diariamente, lentamente, silenciosamente, estatisticamente.Estupros, abusos sexuais, agressões, assassinatos, suicídios.Quantas mais deverão cair?

    Nos emudecem, nos entorpecem, em alguns casos nos tornamos em criminosas para termos proteção e nos defendermos e quem nos acode? Quem nos orienta, nos protege?

    Nossos órgãos de segurança e de justiça transmitem a voz da sociedade, que não se pronuncia. Não se manifestam, nos ignoram, ironizam.!

    Não estamos algumas de nós, com nossas dores para nos lamuriar, já caímos e nos arrastamos, agora queremos os direitos a que temos direito em nosso país! Se isso equivale a Justiça que assim seja! Caso contrário que leis sejam reformuladas para que as mulheres de nosso Brasil possam viver exclusivamente com a dor de seus partos que geram estes homens que as agridem fisicamente, moralmente, patrimonialmente e psicologicamente.


    Ana Maria C. Bruni

    ResponderExcluir

A Fundação Jaqueira agradece a sua visita.
Deixe sua mensagem.